O único time de Bolsonaro é a internet


Jair Bolsonaro quis ser presidente. Ou talvez os seus filhos quiseram que ele fosse. O importante é que desde o começo do ano ele é, de fato, o governante do Brasil. Para tal, ele escolheu o PSL, um casulo para a candidatura e para as eleições que, tão logo foi aberto, tão logo foi jogado fora, para permitir os futuros voos do clã Bolsonaro.

Agora, o presidente decidiu criar o próprio partido, a Aliança pelo Brasil, com o sugestivo número 38. O partido pretende ser criado apenas por assinaturas recolhidas pela internet. Segundo ele, a escolha do número não é referência ao calibre do famoso revólver, mas sim por ele próprio ser o 38o presidente do Brasil. É possível. Mas se Bolsonaro for candidato à reeleição em 2022, e por mera sucessão numérica, ele tentará ser o 39o. Como resolver esse problema matemático?
A primeira solução seria a de não candidatar-se. A segunda seria fazer algo que já fez outras dez vezes (contando com a atual mudança) e mudar de partido com um novo número, nesse caso o 39.

De qualquer modo, desde que foi eleito, Bolsonaro parece muito cansado e ao mesmo tempo entediado com o dia-a-dia das funções de presidente. Discursos, visitas, pronunciamentos, assinaturas, medidas provisórias, leis, esperas, vetos, faixas, negociações, conversas, decretos, entre outros pães nossos de cada dia de um governante de uma nação democrática. Na minha modesta opinião, Bolsonaro não queria ser presidente do Brasil, mas sim presidente da internet do Brasil. Dessa forma ele poderia nomear seus ministros e secretários de acordo com as suas reais ferramentas de trabalho e criar assim o Ministério do WhatsApp, o Ministério do Twitter, a Secretaria da Foto com Arminha de Dedo, a Assessoria de Memes, o Ministério de Gurus sem Curso, o Ministério do Chapéu de Alumínio (muito concorrido) e, o principal deles, Ministério dos Filhos, composto por uma santíssima trindade de ministros: Carlos, Eduardo e Flávio.

Os ministros, nomeados por Bolsonaro, poderiam ser plenos na arte do que fizeram até aqui: governar pelas e para as redes sociais com o apoio da única equipe que não larga o osso, ou seja, sua própria família.

No glorioso território da internet, os Bolsonaro poderiam fazer o que fazem melhor. Espalhar a fé cristã através de correntes religiosas pelo WhatsApp, controlar o avanço comunista criando um filtro contra a cor vermelha, promover os valores da família tradicional com gravações de áudio de "bom dia" para a nação de seguidores, ou espalhar vídeos de perseguições policiais dos anos 80, enaltecendo a destreza e velocidade de carros de polícia norte-americanos. Sugiro mesmo a criação de um quadro semanal, no mesmo formato do ex-presidente Lula e o seu "Café com o Presidente" mas numa versão mais apropriada a Bolsonaro: "Pão com Leite Condensado com o Presidente".

A vantagem seria que, nesse fictício governo, qualquer problema seria resolvido com um bloqueio ou um unfollow e as manifestações seriam mais práticas e rápidas, bastando uma mera mudança de estatuto ou foto do perfil para demonstrar ligeira insatisfação com o governo da internet brasileira. Um oficial de alta patente reconhecido pelo governo ficaria então responsável por controlar, quero dizer, contar os insatisfeitos e analisar o grau de desconforto da população. E se todos ficarem cansados de política, basta clicar "desconectar".





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